sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Política, subjetividade e filosofia!

Deixando de lado a incrível falta de escrúpulos, de ética e de compromisso verdadeiro com o povo brasileiro, essa última eleição foi uma verdadeira “aula de filosofia”. Ambos os lados apoiaram-se em conceitos de descontinuidade histórica para construírem seus discursos, marcados pela subjetividade, onde ambos demonstram suas “vontades de verdade”, sem conseguirem esconder sua fragilidade, que se expõe claramente a olhos e ouvidos atentos e bem treinados.
Marketeiros de ambos os lados produziram suas “verdades”, difundidas por seus atores sem uma preocupação epistemológica com a continuidade histórico social dos últimos 40 anos. As redes sociais e diversos tipos de mídias nas quais essas “verdades” foram veiculadas, potencializaram a repetição por seus adoradores, fazendo com que eles exercessem a verbalização desses discursos com a consequente fixação desses “valores” em seu interior, possibilitando a eles vivenciarem o que eles pensam, de forma inequívoca, ser também a sua própria verdade.
A verdade passa a ser não uma conjunção de fatos e suas consequências sociais e individuais, mas uma pluralidade de sentimentos, o que é demonstrado de forma clara pela segurança com que ambos os lados antagônicos defendem suas posições.Talvez esse não seja o processo eleitoral de nossos sonhos, mas está demonstrando como essa produção de subjetividade é forte em nossa sociedade, e aqui não posso deixar de reconhecer que ambos os lados tiveram equipes muito bem preparadas, podendo fazer parte de qualquer programa do Discovery Chanel sobre técnicas de prestidigitação e ilusionismo.
A busca por governar implica em utilizar mecanismos e procedimentos destinados a conduzir os homens, a dirigir a conduta dos homens. Essa forma de poder manifesto a partir da criação da verdade (que lhe daria poder sobre os outros e também sobre si mesmo) acarreta uma produção de subjetividade na qual a verdade ganhará corpo e forma, e, ao mesmo tempo a expressão da subjetividade se dará sob forma de verdade.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Da inutilidade das coisas sem sentido! Ou não...

Uma pétala numa agenda antiga, um papel de bombom, uma flor de papel pendurada num quadro, um bilhete totalmente ilegível num guardanapo de bar, aquele livro que você ganhou e nunca leu mas não teve coragem de dizer que não gostou.
A inutilidade de objetos que, por fazerem total falte de sentido, em si só já o fazem.
Por que sentir é exatamente isso, descobrir algo onde "aparentemente" não existe nada.
Chego a uma idade em que limpar gavetas é profundamente necessário, seguir em frente, mas sempre deixando pistas.
Sim, é fundamental deixar pistas!
As gavetas se somam e se acumulam, e delas vão saindo Marias, Paulas, Betes, Claudias, Marcias, alguns postais, fotos rasgadas onde apareço até um pedaço do braço, num corte em formato de silhueta que nem lembro mais de quem era. Saem coisas, outras retornam, umas me fazem rir, outras me angustiam, me entristecem. Velhas ideias cheias de emoção, otimismo, poesia, amor.
Mais gavetas, cada uma com suas estórias, cada uma com seu sentido, ou falta dele, ou simplesmente sem nada significante, e significando tudo. Se está ali é por que faz sentido.
Queria mergulhar todos os dias nessas gavetas, reler as estórias, pensar em novos finais, reescrever o hoje com as letras que encontrar, criar uma colcha de retalhos de relíquias, beber na fonte de mim mesmo, encontrar os caminhos que perdi.
Mas o tempo é inexorável, e por ele as letras se apagam, tornando as mensagens indecifráveis, somente papéis de bombom e flores de papel, totalmente inúteis e cheias de todas as coisas sobre as quais realmente vale a pena escrever.

quarta-feira, 26 de março de 2014

E Veio a Chuva!



Um ar puro cismando em penetrar na alma,
No céu, o sorriso de marfim da lua feliz por olhar pra nós,
Pra dois, felizes, embriagados pela beleza das pequenas pérolas
Descortinando o cetim azul que ia de sempre até a vida toda.
Sinfonia de grilos e sapos, todos no mesmo tom
No tom da natureza no ritmo das cachoeiras

Então; a música dos humanos, a música dos amigos
Odes à amizade e à felicidade dos momentos  simples
Um banquete interminável para os sentidos.
E veio chuva!
De algum lugar misterioso dentro daquele céu límpido
Veio a chuva...
Molhando nossos rostos, encharcando a terra,
Fazendo brotar o cheiro da vida
Num momento tão perfeito que parecia sonho.
Um breve momento infinito na memória.
Mas faltava o fogo.
E ele veio depois...

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Conspirações de um universo em expansão e a dicotomia dos astros.

"Fazemos parte do mesmo universo, mas pertencemos a mundos diferentes."
Com certeza todos já se sentiram assim com relação a alguém, mas, algumas vezes ocorre que essa pessoa é uma pessoa especial em nossas vidas. 
Nessas horas geralmente começam os desencontros do universo. Por que muitas vezes o que nós queremos e o que o universo quer, não são coisas exatamente coincidentes. 
Mas há também os reencontros!
Momentos mágicos em parece que os mundos (o seu e o do outro) se deslocaram para ficarem um pouco mais próximos, as órbitas foram sutil e inconscientemente corrigidas, não são mais tão opostas como o sol e a lua, estão mais para Marte e Júpiter, que tem esperanças de momentos breves (no tempo do universo) em que podem ficar alinhados, ao menos da perspectivas dos admiradores desses incríveis segredos, que são o universo e o amor.
Sim, não se enganem, ambos são tão lindos como misteriosos, em intensidade, e, algumas vezes em tamanho.
Assim, até a portentosa madame que nos ilumina as noites e nos faz esticar nossa visão até um lugar muito além dela, um lugar tão distante que somente seu brilho consegue penetrar, tem seu dia de coadjuvante comparada às coisas incríveis que esses dois segredos podem realizar; um para o outro e um com o outro.
Mas ao contrário do dito popular, não são conspirações, são aspirações, quase suspiros indeléveis. 
E assim como a dicotomia dos astros, algumas vezes só conseguimos enxergar metade daquele corpo, e ao contrário da dicotomia dos astros, não a metade que a luz nos mostra, mas a metade que queremos ver.
O amor possui essa faceta, a perspectiva de quem ama nem sempre é a imagem real, assim como a luz, que nos prega inúmeras peças dependendo do corpo em que incide, da temperatura ambiente e da retina de quem olha.
Mas nos reencontros, além do fato de já termos enxergado o lado escuro da dicotomia, temos também a correção das órbitas, a vontade de duas matérias feitas para ficarem juntas de se reunirem, em um só corpo, tão quente que chega a gerar luz própria, tão explosivo quanto uma supernova, tão perigoso quanto um buraco negro.
São leis imutáveis, não se luta contra elas, só o que podemos fazer, é deixar o magnetismo, a gravidade, a força centrípeta agirem e cuidar para que o universo tome seu curso, por que é isso que ele vai fazer.


"Olho para o céu 
Tantas estrelas dizendo da imensidão 
Do universo em nós 
A força desse amor nos invadiu. 
Então 
Veio a certeza de amar você."

Caetano Veloso


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Alma de Mestre!
Minha singela homenagem ao dia do mestre.



Me encanta a condição humana
Quando a leio nos livros de filosofia.
Quando a vejo em forma de poesias
Nas obras de Drumond e Cora.

Me espanto com as possibilidades matemáticas
Das viajens ao espaço.
Me encanto com a Via Láctea.
Com suas espirais de matéria e energia.

Minh’alma regozija-se ao ouvir Chopin e Debussy
E crio asas de passarinho ao som do piano de Jobim.

Mas a cada sentimento, a cada inspiração, a cada leitura,
Sempre estarão associados os nomes dos grandes mestres
De minha infância e juventude.

Meu pai Roberto,
Eterno mestre
O homem que sabia “quase tudo”
Que ao ler as obras de Monteiro Lobato
Aos pés das camas de cinco crianças,
Despertou a vontade de sonhar e a curiosidade de aprender.

Mestre Zé Augusto
Tornou-se mestre aos cinquenta anos,
Mostrando que nunca se sabe tanto
Que não se tenha nada a aprender
E nem tão pouco
Que não se tenha nada a ensinar.

Outros tantos mestres que tive
Na escola e fora dela.
Hoje não estou mais em suas salas de aula,
Mas eles continuam, todos os dias,
Na minha.

Na alma de quem aprende ensinando,
Que é em si, o meio e a mudança,
O fluxo dos ideais,
A seta da educação;
Ensinar é muito mais do que passar conhecimentos.
Ensinar é passar um pouco de si
Do seu lado bom
Por que ensinar em si, já é algo bom.

Nunca me canso de aprender a ensinar!

E de aprender o que “realmente” vale a pena ensinar.
Por que prefiro formar “um único” homem com senso crítico,
Do que encher a sociedade de hipócritas,
Salvar “uma única” alma,
Do que produzir uma centena de eruditos.

Só assim, ouso me intitular:
“Professor, com muito orgulho!”

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Luz, a teus pés.


Estímulos metropolitanos,
Produção intelectual,
Faróis, buzinas,
Imagens velozes,
Vidas em videoclipe.

Os minutos passam,
O trânsito pára,
A vida corre,
A vida;
Escorre...

A mente dispara, a alma, se separa
Não dançam juntas,
Frenéticas; correm por labirintos vermelhos
Disparam setas, tudo muito rápido
Tudo muito intenso,
Vitrais arabescos.
Caleidoscópios multicores
Movendo-se ao som da nona de Beethoven.

Até que se deparam, mente e alma,
Com tal imagem singela.

A música pára.
Imagens que voavam elípticas,
Dissolvem-se em fina poeira, que rápido se dispersa.

Lá está ela:
Permeando alvos tecidos
Suavemente enrugados
Por talvez uma brisa gentil
Que se fez sopro, para contemplar.

Lá está ela:
Olhando para o alto talvez,
Ou talvez apenas aproveitando o momento.
Sendo parte, sendo “a” arte
O eterno e o instante.

Lá está ela:
Suspirando, como sei que está.
Aspirando o perene,
Expirando o efêmero.
De que outra forma conseguiria registrar tal imagem?

E vai-se então, minha alma se acalmando,
E se acalmando,
E se acalmando...

Até ficar completamente serena!

Como essa luz,
A teus pés.


N.a:  Poema inspirado em foto de Letícia Cardoso.

sábado, 23 de junho de 2012

O paradoxo do momento, ou A arte do milésimo de segundo!

"Já conheço os passos dessa estrada..."
Assim começa "Retrato em Branco e Preto" de Chico Buarque e Tom Jobim. Há uma curiosidade sobre essa música, assisti uma entrevista de Tom certa vez, em que ele confidenciava que a letra original da música seria "Vou colecionar mais um tamanco, outro retrato em preto e branco...", mas aí alguém, que não me recordo se foi o próprio Chico, sugeriu a mudança para versão que foi gravada, acredito que todos os meus leitores conheçam. Mas não é esse o mote desse texto, e sim essa maravilhosa arte: A fotografia.
Uma amiga muito querida vem me ajudando a admirar essa arte, e conhecer alguns de seus segredos. Tenho ido à exposições, prestado atenção, e até me arrisco com algumas clicadas. Uma das exposições em que fui, justamente levado pelas mãos dela, de um fotógrafo Francês chamado Robert Doisneau, me revelou uma coisa fantástica: A fotografia é o paradoxo do momento!
Doisneau era um fotógrafo do cotidiano, vê-se claramente que a maior parte de suas fotos não são montadas, é o dia-a-dia normal, momentos que vemos às centenas todos os dias, mas que com o "olhar certo" transformam-se em arte.
Aquelas fotos contavam histórias, diziam muito sobre pessoas e coisas, tudo isso num milésimo de segundo...tempo suficiente para a luz penetrar a objetiva e causar a reação nos sais do filme. Como pode? Um momento tão rápido nos contar tanta coisa, fazer refletir, causar tanta admiração?
Algumas daquelas fotos me paralisaram, outras me hipnotizaram, outras vieram comigo, transformaram-se em reflexão.
Que todos veem o mundo de forma diferente, isso entendo, mas como alguém pode transformar momentos em arte, assim dessa forma, me deixou intrigado. Será que todos podemos também? Será que eu posso?
As fotos não falam, todos sabem disso, mas aquelas fotos diziam coisas sobre o passado, o presente, e, algumas, até sobre o futuro daquelas pessoas. Um paradoxo criado pelo artista, pois, como já disse, aquilo foi um milésimo de segundo.Não canso de me surpreender com a condição humana. O que podemos criar com nossas mentes, nossa criatividade, é fantástico. Fiquei feliz pela descoberta dessa "arte de olhar as coisas", e agora, sinceramente, vejo o mundo com outros olhos, percebendo que cada minuto pode se transformar em arte, e, quando não gosto muito do que vejo, mudo de ângulo. É um belo exercício para coração e alma!
Pense muito! Páre sempre! Olhe ao redor!
Você verá que tudo pode ser visto de mais de uma forma, pode ser a forma crua, ou você pode, simplesmente, transformar qualquer coisa em arte.

Obrigado, Letícia!