terça-feira, 18 de agosto de 2009

Conclusões Inconclusas 3: "As Dúvidas"

O que é uma dúvida, a não ser uma certeza que demora a chegar?
O mundo não é exatamente o que gostaríamos que ele fosse, mas o local onde vivemos. O que ele nos dá, o que nos reserva, não está escrito em lugar nenhum, a não ser nas linhas que traçamos com nossos passos.
Penso quase sempre assim; chamam-me "sofista" ou protagórico, mas na verdade não sou. E justamente por isso. Minha vontade de moldar o mundo à minha visão me traz essa luta interna diária.
Hoje ao trocar um curativo no meu joelho, passei vários miniutos vendo o sangue escorrer e por um momento consegui enxergar minha circulação inteira. Vi como o sangue circula sem determinismos. Ele apenas vai, e vem e volta.
Eu não digo para ele circular, mas entendo como é belo que ele circule dentro de mim.
Curiosamente, nesse momento, um vento abriu a porta do meu quarto e eu vi os primeiros raios de sol do dia.
Respirei fortemente, mesmo sabendo que o ar estava ali, que não ia acabar. Naquele momento eu quis ser um pouco o ar e o sol.
Lá se foi o sofista...
Me lembrei de Fernando Pessoa e percebi que eu sou o ar e o sol. Mas mais do que isso, eu sou eu mesmo.
Minhas dúvidas fazem parte de mim, de quem eu sou hoje, de como vejo as coisas que me cercam, de como me relaciono com o mundo.
Às vezes as dúvidas são nada mais nada menos do que o mundo te dizendo: "Tenha um pouquinho de paciência".
Ao pensar assim, desconstruo doutrinas, desalojo os mestres, rasgo tratados que eu mesmo ajudei a escrever, desviro a ampulheta e me preparo então para o "recomeço" diário.
Sai de casa aliviado e nessa manhã percebi cores diferentes no meu quintal.
Tomara que eu as veja amanhã de novo...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Rock'n Roll

Uma pessoa a quem amo muito vaticinou: “Não somos pedra”.

Sim, realmente não somos. Pelo menos aqueles que querem evoluir e aproveitar as boas lições que o dia-a-dia da vida nos traz.

Somos uma massa mutante e precisamos aproveitar ao máximo o pequeno intervalo de tempo que o universo nos reserva, o ultramicroscópico intervalo de tempo entre o dia em que nascemos e o dia em que iremos deixar nossa existência como seres humanos.

E quem são os afortunados que melhor aproveitam esse intervalo? Seriam aqueles que nasceram ricos e poderosos? Os que puderam passar suas vidas sem sacrifícios e saborearam os prazeres que a beleza do planeta e o conforto da civilização lhes proveram?

Não estou bem certo. Não creio em religiões, portanto acredito que só há uma forma de sobreviver após a morte, quando nossa obra é lembrada, quando nossas idéias são lembradas, quando nossa vida é lembrada.

De certo nisso eu acredito. Você deixa de existir como um ser humano e passa a existir como uma idéia, um exemplo, alguém que amou e foi amado, alguém que não teve medo de se arriscar.

Então por que não arriscar-se? Por que não amar? Por que não mudar?

Mudar faz parte da evolução, mudar é saudavelmente positivo, invariavelmente moderno, refrescantemente adequado.

Mudar, rolar, não ficar parado, movimentar-se.

Ah, querida... se todos fossem iguais a você...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Conclusões Inconclusas 2: A Felicidade!

1-) A felicidade são momentes que te afetam muito, de forma positiva, causando um enorme bem-estar e uma sensação de paz interior.
A lembrança desses momentos então continua gerando bons sentimentos e sensações prazeirosas por tempos não determinados até que por uma conjunção de fatores esses momentos felizes possam voltar a ocorrer formando o que eu chamo de "ciclo da felicidade".

2-) Felicidade é lembrar de uma determinada pessoa que me faz muito bem, ao lado de quem, tenho certeza: I will be happy.

Espelhos Côncavos

Existe uma espécie de espelho que possui uma característica especial: ele reflete nossa imagem invertida.

Ao longo da vida, mas principalmente quando somos adolescentes e jovens e ainda sofremos de vários tipos de inseguranças relativas à nossa vida sentimental e profissional, esses espelhos podem causar grandes danos.

Quase todos, temos ou tivemos um amigo invejoso, uma tia avó fofoqueira, daquelas que não perde uma oportunidade de falar mal de alguém, um professor cheio de preconceitos, que mesmo tendo por ofício educar e entender, não consegue achar um canal de comunicação com seus alunos, e então, algumas vezes a nossa imagem fica bastante distorcida através deles.

Jovens são subversivos por natureza. Gostam de experimentar, fazem coisas irresponsáveis, mas dentro de um padrão, esses atos são esperados, pois é uma característica da juventude.

A maioria dos leitores desse blog, já meio que passaram por essa fase, mas ainda assim há em nossa sociedade espelhos côncavos que refletem uma imagem invertida de adultos que querem simplesmente viver suas vidas com suas opções respeitadas, sem fazer mal a ninguém e respeitando as opções alheias.

Por que isso é tão difícil?

Tenho me perguntado isso incessantemente, mas não acho uma resposta racional, apenas aquele velho sofisma: “É a natureza humana”.

Está mais do que claro que essa resposta não serve pra mim. Não me deixará menos angustiado, apenas menos curioso.

Há um motivo forte pelo qual o homem chegou tão longe: Ele é curioso.

Investigo o porquê de determinadas pessoas se sentirem tão bem, apenas pelo fato de poderem criticar outras, ou se sentirem superiores através de uma falsa noção de normalidade, que torna piercings e cabelos roxos e cor-de-rosa em um fator de exclusão, ou algo de gueto, que absolutamente não são.

As diferenças existem, estão aí em todos os locais, no RAP e no Funk, no Jazz e na Bossa, nos cabelos roxos e nos carecas.

Diferenças!

Algo que mede nossa capacidade de respeito pelo próximo.

Posso não me enxergar no outro, mas sempre tentarei não distorcer sua imagem.

Sim, pois quem afinal, é capaz de garantir (garanto que eu não sou) que a imagem distorcida não é a minha.

Não é um simplismo essa visão. É uma consideração de elementos presentes em vários momentos, em diferentes situações e diferentes ambientes pelos quais transito no meu dia-a-dia.

Observando, entendendo, conversando, perguntando, e assim buscando a serenidade para poder dizer: “Não é bom nem ruim, é apenas diferente”.





P.S: Amo tu cara de tatu !!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Visões d’além mar.

Somos letras e frases nas telas,
Espaço virtual em que me torno quântico,
Sonhando imagens no içar das velas
Onde encontramos nosso doce cântico.

Não sou um ele que luta por elas,
Nem abjeto, nem tolo e romântico.
Sou vida; e vida vem delas.
Mostrando em atos seu valor semântico.

Não admiro só suas aquarelas,
Tua coragem vai-me ao recôndito,
Tuas idéias tão fortes e belas
Tornam minúsculo o oceano Atlântico.

Para Nana Odara.

P.S: Nana, quando te leio, estou quase sempre sentado a seu lado.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Três Estados.

Não sou como o mar nem como o rio,
Sou mais como a chuva.
Sou a água que viaja sob várias formas.
Evaporo, condenso e precipito.

Espero pelo vento,
Nele viajo livre.
Molho os amantes e irrigo a terra.
E nela me transformo em relva.
E nela me transformo em flor.

Me construo e desconstruo,
E reconstruo onde necessário.

E junto meu ser em pingos, em gotas,
Pequenas frações de mim
Nessa grande nuvem chamada eu.

Plantio

Semeia a teu redor, com todo gosto
As boas coisas que sabes, entre tantas.
Muitas delas já colhestes, e isto posto
Muitas outras colherás do que hoje plantas.

Por que perdi o número três? Por que perdi a letra Efe?

Estava eu com meu pequeno tesouro este domingo. Uma pequena princesa de 4 aninhos, fase em que as novidades aparecem quase que diariamente.
À noite a mãe veio me mostrar o livro da escola.
-Olha o número quatro dela, que bonitinho.
-Olha a letra ge.
Era algo muito parecido com uma flecha, mas era de fato, o número quatro. Bateu-me então um aperto forte no peito, uma dor profunda, misturada, confusa e triste.
Por que eu não vi o número três? Onde estava eu quando pela primeira vez ela escreveu a letra efe?
Não sei...eu simplesmente não sei aonde estava. Mas sei onde deveria estar.
A vida me deu todas as cartas e as embaralhou de forma desconcertante. É como se eu montasse um quebra-cabeças temporal, com peças extemporâneas.
As peças são lindas, perfeitas, mas...
Não se encaixam.
E eu as olho e penso: “Essa aqui ficaria perfeita há cinco anos atrás”, “Essa ficaria perfeita se pudesse ser colocada daqui a três anos”, “Essa outra é tão maravilhosa, e eu simplesmente não sei onde se encaixa”.
São tantas coisas, e mais uma série de descobertas e o reencontro com a arte. E tudo se confunde e se mescla dentro da minha já confusa cabeça.
Sei que não posso ser todos, e que se pudesse não quereria sê-los. Tenho que ser apenas um e conviver com todos que vivem dentro de mim. Sei disso; sou grato à vida por isso.



Mas nenhum desses sentimentos é capaz de deter as lágrimas da tristeza que me caem quando penso que perdi o número três e a letra efe...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Ensaio Sobre a Visão.

Sem dúvida um dos livros de leitura mais difícil (difícil, no sentido de denso, sofrido) que já li até hoje foi o “Ensaio Sobre a Cegueira” de José Saramago.
Tempos depois soube que a intenção dele era realmente essa, que o leitor tivesse essa angústia.
E realmente, há pouco tempo descobri que viver num mundo sem imagens (sem imagens, não sem luz), pode ser extremamente angustiante.
Mas nada pode ser mais triste do que ter a visão perfeita e não enxergar nada.
Como nós que temos a visão perfeita, que nos deliciamos com os sorrisos alheios, que vemos o sol e os girassóis, que acenamos de longe para um amigo e rimos com a cara engraçada dos cachorros na rua, podemos enxergar tão menos que um homem absolutamente cego? Como?
O que enxergamos quando se aproxima de nós um garoto no sinal, ou uma velha senhora com suas roupas rasgadas e suas unhas sujas, balançando seu pires de moedas; vazio como é vazia a fraternidade do mundo?
Enxergamos o medo. O medo de sermos enganados. Sim, por que o que uma velha senhora enfraquecida pela doença, mal alimentada e cansada pode oferecer de perigo pra mim. Nada.
E então, qual não foi minha profunda decepção comigo mesmo, ao ver uma pessoa totalmente desprovida de visão enxergar tanto mais sobre o mundo do que eu.
Aquele homem simples, de sorriso franco, calejado pelas agruras da vida, acostumado às batalhas e que agora é obrigado a encarar mais esse desafio: Faltou-lhe a visão.
Mas a visão ótica, a visão física. Não a capacidade de enxergar. Essa não lhe falta.
Falta a mim, e a muitos como eu.
Falta a mim, enxergar melhor o coração daqueles que me cercam, e dos que apenas estão próximos.
Falta-me ver o pedido de socorro onde vejo antipatia e intolerância. Falta-me ver as mãos estendidas pedindo que alguém as segure.
Falta enxergar a humanidade dos homens, como ele enxergou em mim.
Este homem emocionou-se ao meu lado, por um simples gesto, que para muitos, ou quase todos não significaria nada.
Como se enxergasse, pousou sua mão sobre a minha e apertou-a levemente. Naquele momento não foram minhas mãos que foram tocadas. Aquele homem cuja visão me surpreendeu e continua surpreendendo, tocou meu coração.
Há apenas alguns dias isso se passou. A minha visão do mundo, mudou muito desde então.
Ontem, ao flagrar-me fitando-a demoradamente, uma amiga minha perguntou-me:
- Mas afinal, por que é que você tanto me olha? O que é que tem de tão diferente em mim?
E eu respondi:
-Tudo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Conclusões Inconclusas 1: Sobre o Amor

Falar de amor é um lindo paradoxo. Simplesmente por que as sentenças não possuem uma forma de afigurar o amor.
O amor não pode ser dito ele pode apenas ser mostrado, ou nesse caso, SENTIDO.

Nem Macho, nem Fêmea: Humano.

Comentário meu publicado no Blog Mater Mundi no texto A Mulher Macho que por sua vez é uma resposta a um texto considerado patriarcal por nós: http://pistasdocaminho.blogspot.com/2009/05/guerra-dos-sexos-mitologia-da-doenca.html

Li o texto e achei bem interessante. Mas sim, o tema central não é as mulheres e sim os homes. Tudo nele gira em torno das relações dessas mulheres com os homens ou até com outras mulheres como sintoma de uma causa masculina.
Você não é ginofóbica. Entendo sua decepção com esse contexto.
Vejo você como uma Joana D'arc negra, contemporânea; com sua armadura psíquica gritando para todas as mulheres: "Quebrem seus terços", "Queimem suas burcas","Cuspam na cara de seus maridos bossais"...
Esses homens de peito de pombo, esculpidos em infinitas malhações narcisistas, sacudindo seus pênis maiores que seus cérebros. Que triste.
Mas foi assim que a sociedade impôs suas regras, criadas na medida da conveniência da dominação do homem sobre a mulher, como senhor e vassalo. Como isso me enoja...
Como aquele Deus barbado FILHO de um Deus PAI da falácia da Santíssima Trindade. O Homem não dá a luz, simples assim. Se tivermos que pensar num Deus supra-humano, como criador de todas as coisas, e, se tivermos que dar-lhe um gênero (que eu também acho um absurdo) sem dúvida seria um Deus (Deus mesmo, não Deusa) FILHA de um Deus MÃE.
Se eu soubesse pintar ou desenhar, faria várias pinturas da FILHA de Deus, crucificada, arrastada por correntes, e por fim, venerada, e levada para junto do Deus MÃE.
Me vejo cada dia mais diferente e distante disso tudo...às vezes me sinto isolado. Mas sei que as verdadeiras relações entre os seres da raça humana não deveriam ser assim.
Nós possuímos algo maravilhoso, a linguagem, e desperdiçamos essa característica por dezenas de milhares de anos. Está na hora de nos leventarmos !
A lealdade feminina pode contar comigo.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Complexo de Sísifo.

Não leitor, você não é Sísifo. Nem eu.
Apesar de a sociedade moderna às vezes fazer com que nos sintamos inúteis, nós não somos.
Sempre procurei fazer tudo com paixão, com tesão, até as tarefas mais rotineiras e muitas vezes enfadonhas são tratadas por mim como coisas de suma importância, caso contrário é melhor não fazê-las.
Em “Tempos Modernos” de Chaplin (filme que eu considero atemporal), há uma cena maravilhosa em que o vagabundo fica preso nas engrenagens da máquina. É um arquétipo maravilhoso, mas dolorido e que desperta toda uma gama de questionamentos.
Podemos e devemos aprender a ter paixão pelo que fazemos seja lá o que for. Sei que isso não é fácil, pois eu mesmo já me senti como o vagabundo em várias fases da minha vida, e me lembro bem, todas elas foram improdutivas até eu aprender a ter algum tipo de paixão. A mesma paixão que sinto em andar descalço, tocar violão ou mergulhar no mar.
Quando aprendemos isso, aprendemos também a nos valorizar profissional e pessoalmente, crescemos como pessoas, ganhamos respeito próprio.
E então levamos esse respeito para nossa vida sentimental também.
Tenho visto, infelizmente, pessoas vivendo suas relações amorosas como Pozzo e Lucky de “Esperando Godot”, e isso tem me entristecido demais.
Independente de opção sexual, orientação, fetiche ou qualquer forma menos convencional de relacionamento, o ser humano não deve se degradar. As relações sexuais, desde que sejam satisfatórias, podem e devem se utilizar de todos os tipos de fantasia, mas não devemos nos esquecer de que são meramente fantasias sexuais.
Por favor, nós não somos sísifo. O homem tem uma propensão selvagem às relações de dominação e poder, seja ele financeiro, hierárquico ou o pior de todos psicológico.
Cada passo dado só é bom se for pra frente, e chega a ser significativo o fato de respiramos pra dentro. Ao aprender com pequenas coisas, podemos pegar nossas experiências e transporta-las para as grandes coisas como o aumento de nossa autoestima.
Quem você é tem muito a ver com a forma como você se enxerga.
Enxerguemos o mundo, mas façamos questão que o mundo também nos veja, assim podemos crescer como indivíduos e como sociedade.
Se você se reconheceu aqui, não foi à toa, imprima e guarde no bolso e procure ser feliz.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Amor de um Feliz Rouxinol

Era uma vez um Feliz Rouxinol que vivia num carvalho à beira de um riacho tranqüilo. Na relva ao seu redor havia uma formosa rosa e um lindo jasmim.
Todos os dias o Feliz Rouxinol cantava seu amor pelo carvalho, pela rosa e pelo jasmim. Levantava seu pequeno pescocinho, olhava para o céu e entoava as mais belas canções para seus três amores.
Um dia um lagarto que passava pelo jardim ao ouvir o canto, perguntou ao rouxinol: - Porque canta com tanto afinco assim Feliz Rouxinol, se eles parecem nem ligar?
E o Feliz Rouxinol interrompeu um pouco seu canto para explicar ao amigo lagarto por que fazia aquilo de forma tão entregue.
- Amigo lagarto, eles parecem não ligar, pois estão acostumados ao meu canto, e o que parece ser indiferença no fundo eu sei muito bem que é forma deles também manifestarem seu amor por mim. Quando o inverno gelado calou meu canto, este galho do carvalho onde me ponho a cantar começou a descascar e perder sua força até quase se quebrar, a rosa não tinha mais o seu brilho e algumas pétalas começaram a cair e o jasmim perdeu quase todo seu encantador perfume.
-Foi aí que percebi o quanto meu canto era valioso para eles, mesmo que não aplaudissem ou retribuíssem da qualquer outra forma. Desse dia em diante não me importava mais o frio ou a dor do esforço de cantar, só não podia mais vê-los definhando daquele jeito a cada dia.
-Pus-me então a cantar da forma mais bela que conseguia na esperança de que de alguma forma eles recuperassem sua beleza.
-Então, como mágica, a rosa voltou a se abrir e brilhou iluminando nosso jardim, o jasmim exalou o perfume mais doce que se sentiu em nosso reino e o carvalho voltou a ser o forte e belo carvalho de outros tempos.
-Eu então entendi que não precisava deles mais do que isso: Que fossem belos.
O lagarto parou por um tempo, balançou sua cauda em sinal de entendimento, e perguntou de novo ao Feliz Rouxinol:- Mas o carvalho, a rosa e o jasmim são três. Como pode você amar os três ao mesmo tempo?
O Feliz Rouxinol entoou um pequeno canto, olhou para o seu amigo e respondeu:
- Por que eles estão aqui, perto de mim, não vão embora, e enquanto eles ficarem; assim o será.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Urso e o Pote de Mel ou A Alquimia dos Sentimentos.

Procurando manter estável meu nível de endorfinas (e quem me conhece sabe que ele é muito alto), dia desses fui acometido por um estranho desejo: Mel.
Um doce néctar cuja matéria prima não poderia ser mais inebriante: Flores.
Num rompante, saio eu cruzando caminhos e estradas em busca do objeto de meu desejo. Minha boca salivava esperando encontrar sua doçura e apressei minha jornada para encontrá-lo.
Encontrei-o. Um pote de Mel. O objeto de meu desejo.
O encontro surtiu um efeito avassalador, mas não foi o encontro do urso com o pote de Mel, muito pelo contrário.
Naquele momento ocorreu uma alquimia de sentimentos e transformei chumbo em ouro.
O desejo tornou-se afeto, e passei a olhar a textura daquele Mel, seu cheiro, e pensei no lirismo de sua produção e na beleza de sua existência.
A partir dali me senti como um menino, enfeitiçado diante de um aquário de peixinhos dourados. Por um instante achei que tocavam o Bolero de Ravel ao nosso redor, mas era apenas a caixa de som de um bar das proximidades.
E o afeto virou ternura e a ternura virou tradução, e estou me traduzindo todos os dias desde então.
E o urso, se transformando em rouxinol, prova que a magia ainda existe.
A magia do carinho.



 Milton Nascimento - Rouxinol

segunda-feira, 2 de março de 2009

Wittgenstein, Lógica de Programação e Amor.

Sim, é verdade o que dizem: Estou ficando cada dia mais louco.

Nós, programadores, aprendemos desde o princípio que cada “entidade” (falando a grosso modo) em nosso trabalho, possui propriedades e métodos.

Parametrizamos, classificamos e encapsulamos. Mas sabemos muito bem, que nenhuma classe é totalmente fechada, e que sempre podemos agregar algo melhor, mais produtivo, mais interessante, mais criativo.

Não tratamos “o cliente” nem “o produto”, tratamos “cliente” e “produto”, com suas características, propriedades, métodos, parâmetros etc...

Tenho me deparado (e me batido) muito com uma entidade chamada “Amor”. Empírica aos olhos descuidados e quase uma abstração, regida por ilusões sensoriais, para os mais céticos.

Tão distante quanto a própria idea de distância e suas variantes.

Não me refiro nem tratarei de “o amor”, mas sim de “amor”. Amor com suas incríveis e paradoxais dicotomias. Amor curativo, amor doentio, amor sublime, amor abjeto, amor altruísta, amor egoísta.Enfim, essa fantástica classe chamada "amor".

Você instância seu amor, com seus parametros e seus métodos, ele é sua constante e sua variável.

O outro cria a instância de amor dele conforme seus proprios padrões.

Um não influencia (ou não deveria influenciar) o outro, eles são da mesma classe, a mesma classe paradoxal e dicotômica a que me referi, mas com métodos diferentes, e, nem sempre buscando o mesmo resultado.

O fato é que o seu amor lúdico, não pode se deixar influenciar pelo amor visceral do outro, ou ele perecerá efêmero sendo recolhido imediatamente pelo Garbage Collector.

"O que parece certo é o que é certo; conseqüentemente, não se pode mais falar do certo."

Mas as instâncias se relacionam...

Um lado humanista; no meio de tanta lógica.

Se adaptam, se conhecem, se permeiam.

E no fundo, o que realmente queremos, é que essas duas instâncias se encontrem, numa fusão que transcende a lógica, e que se unifiquem sem deixar de ser íntegras, criando uma super classe nova, cheia de propriedades e métodos inexplorados.

A super classe "Nós".





N.a:
Existe uma segunda parte deste texto, mas é tão doida que não me atrevi a publicar. Recortei daqui e guardei em arquivo. Talvez algum dia...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Velho Companheiro

O tempo é igual para todas as coisas

Assim como todas as coisas são iguais para o tempo.

O tempo que traz as rugas

É o mesmo tempo que leva à felicidade

O tempo que traz o dia

É o mesmo tempo que leva a noite

O tempo anda comigo, dias, noites e rugas

Tempo de filhos

Tempo de pais,

Tempo de paz.

Como todos os dias

No fim de todas as noites

No por do sol

E na aurora.

Dias felizes,

Noites de paixão

Que levam o tempo a passar.

Aurora da vida,

Nas ruas do temo,

Nas veias do tempo

No jardim meu...e seu...



Para Liliane.