segunda-feira, 25 de maio de 2009

Três Estados.

Não sou como o mar nem como o rio,
Sou mais como a chuva.
Sou a água que viaja sob várias formas.
Evaporo, condenso e precipito.

Espero pelo vento,
Nele viajo livre.
Molho os amantes e irrigo a terra.
E nela me transformo em relva.
E nela me transformo em flor.

Me construo e desconstruo,
E reconstruo onde necessário.

E junto meu ser em pingos, em gotas,
Pequenas frações de mim
Nessa grande nuvem chamada eu.

Plantio

Semeia a teu redor, com todo gosto
As boas coisas que sabes, entre tantas.
Muitas delas já colhestes, e isto posto
Muitas outras colherás do que hoje plantas.

Por que perdi o número três? Por que perdi a letra Efe?

Estava eu com meu pequeno tesouro este domingo. Uma pequena princesa de 4 aninhos, fase em que as novidades aparecem quase que diariamente.
À noite a mãe veio me mostrar o livro da escola.
-Olha o número quatro dela, que bonitinho.
-Olha a letra ge.
Era algo muito parecido com uma flecha, mas era de fato, o número quatro. Bateu-me então um aperto forte no peito, uma dor profunda, misturada, confusa e triste.
Por que eu não vi o número três? Onde estava eu quando pela primeira vez ela escreveu a letra efe?
Não sei...eu simplesmente não sei aonde estava. Mas sei onde deveria estar.
A vida me deu todas as cartas e as embaralhou de forma desconcertante. É como se eu montasse um quebra-cabeças temporal, com peças extemporâneas.
As peças são lindas, perfeitas, mas...
Não se encaixam.
E eu as olho e penso: “Essa aqui ficaria perfeita há cinco anos atrás”, “Essa ficaria perfeita se pudesse ser colocada daqui a três anos”, “Essa outra é tão maravilhosa, e eu simplesmente não sei onde se encaixa”.
São tantas coisas, e mais uma série de descobertas e o reencontro com a arte. E tudo se confunde e se mescla dentro da minha já confusa cabeça.
Sei que não posso ser todos, e que se pudesse não quereria sê-los. Tenho que ser apenas um e conviver com todos que vivem dentro de mim. Sei disso; sou grato à vida por isso.



Mas nenhum desses sentimentos é capaz de deter as lágrimas da tristeza que me caem quando penso que perdi o número três e a letra efe...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Ensaio Sobre a Visão.

Sem dúvida um dos livros de leitura mais difícil (difícil, no sentido de denso, sofrido) que já li até hoje foi o “Ensaio Sobre a Cegueira” de José Saramago.
Tempos depois soube que a intenção dele era realmente essa, que o leitor tivesse essa angústia.
E realmente, há pouco tempo descobri que viver num mundo sem imagens (sem imagens, não sem luz), pode ser extremamente angustiante.
Mas nada pode ser mais triste do que ter a visão perfeita e não enxergar nada.
Como nós que temos a visão perfeita, que nos deliciamos com os sorrisos alheios, que vemos o sol e os girassóis, que acenamos de longe para um amigo e rimos com a cara engraçada dos cachorros na rua, podemos enxergar tão menos que um homem absolutamente cego? Como?
O que enxergamos quando se aproxima de nós um garoto no sinal, ou uma velha senhora com suas roupas rasgadas e suas unhas sujas, balançando seu pires de moedas; vazio como é vazia a fraternidade do mundo?
Enxergamos o medo. O medo de sermos enganados. Sim, por que o que uma velha senhora enfraquecida pela doença, mal alimentada e cansada pode oferecer de perigo pra mim. Nada.
E então, qual não foi minha profunda decepção comigo mesmo, ao ver uma pessoa totalmente desprovida de visão enxergar tanto mais sobre o mundo do que eu.
Aquele homem simples, de sorriso franco, calejado pelas agruras da vida, acostumado às batalhas e que agora é obrigado a encarar mais esse desafio: Faltou-lhe a visão.
Mas a visão ótica, a visão física. Não a capacidade de enxergar. Essa não lhe falta.
Falta a mim, e a muitos como eu.
Falta a mim, enxergar melhor o coração daqueles que me cercam, e dos que apenas estão próximos.
Falta-me ver o pedido de socorro onde vejo antipatia e intolerância. Falta-me ver as mãos estendidas pedindo que alguém as segure.
Falta enxergar a humanidade dos homens, como ele enxergou em mim.
Este homem emocionou-se ao meu lado, por um simples gesto, que para muitos, ou quase todos não significaria nada.
Como se enxergasse, pousou sua mão sobre a minha e apertou-a levemente. Naquele momento não foram minhas mãos que foram tocadas. Aquele homem cuja visão me surpreendeu e continua surpreendendo, tocou meu coração.
Há apenas alguns dias isso se passou. A minha visão do mundo, mudou muito desde então.
Ontem, ao flagrar-me fitando-a demoradamente, uma amiga minha perguntou-me:
- Mas afinal, por que é que você tanto me olha? O que é que tem de tão diferente em mim?
E eu respondi:
-Tudo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Conclusões Inconclusas 1: Sobre o Amor

Falar de amor é um lindo paradoxo. Simplesmente por que as sentenças não possuem uma forma de afigurar o amor.
O amor não pode ser dito ele pode apenas ser mostrado, ou nesse caso, SENTIDO.

Nem Macho, nem Fêmea: Humano.

Comentário meu publicado no Blog Mater Mundi no texto A Mulher Macho que por sua vez é uma resposta a um texto considerado patriarcal por nós: http://pistasdocaminho.blogspot.com/2009/05/guerra-dos-sexos-mitologia-da-doenca.html

Li o texto e achei bem interessante. Mas sim, o tema central não é as mulheres e sim os homes. Tudo nele gira em torno das relações dessas mulheres com os homens ou até com outras mulheres como sintoma de uma causa masculina.
Você não é ginofóbica. Entendo sua decepção com esse contexto.
Vejo você como uma Joana D'arc negra, contemporânea; com sua armadura psíquica gritando para todas as mulheres: "Quebrem seus terços", "Queimem suas burcas","Cuspam na cara de seus maridos bossais"...
Esses homens de peito de pombo, esculpidos em infinitas malhações narcisistas, sacudindo seus pênis maiores que seus cérebros. Que triste.
Mas foi assim que a sociedade impôs suas regras, criadas na medida da conveniência da dominação do homem sobre a mulher, como senhor e vassalo. Como isso me enoja...
Como aquele Deus barbado FILHO de um Deus PAI da falácia da Santíssima Trindade. O Homem não dá a luz, simples assim. Se tivermos que pensar num Deus supra-humano, como criador de todas as coisas, e, se tivermos que dar-lhe um gênero (que eu também acho um absurdo) sem dúvida seria um Deus (Deus mesmo, não Deusa) FILHA de um Deus MÃE.
Se eu soubesse pintar ou desenhar, faria várias pinturas da FILHA de Deus, crucificada, arrastada por correntes, e por fim, venerada, e levada para junto do Deus MÃE.
Me vejo cada dia mais diferente e distante disso tudo...às vezes me sinto isolado. Mas sei que as verdadeiras relações entre os seres da raça humana não deveriam ser assim.
Nós possuímos algo maravilhoso, a linguagem, e desperdiçamos essa característica por dezenas de milhares de anos. Está na hora de nos leventarmos !
A lealdade feminina pode contar comigo.