segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Luz, a teus pés.


Estímulos metropolitanos,
Produção intelectual,
Faróis, buzinas,
Imagens velozes,
Vidas em videoclipe.

Os minutos passam,
O trânsito pára,
A vida corre,
A vida;
Escorre...

A mente dispara, a alma, se separa
Não dançam juntas,
Frenéticas; correm por labirintos vermelhos
Disparam setas, tudo muito rápido
Tudo muito intenso,
Vitrais arabescos.
Caleidoscópios multicores
Movendo-se ao som da nona de Beethoven.

Até que se deparam, mente e alma,
Com tal imagem singela.

A música pára.
Imagens que voavam elípticas,
Dissolvem-se em fina poeira, que rápido se dispersa.

Lá está ela:
Permeando alvos tecidos
Suavemente enrugados
Por talvez uma brisa gentil
Que se fez sopro, para contemplar.

Lá está ela:
Olhando para o alto talvez,
Ou talvez apenas aproveitando o momento.
Sendo parte, sendo “a” arte
O eterno e o instante.

Lá está ela:
Suspirando, como sei que está.
Aspirando o perene,
Expirando o efêmero.
De que outra forma conseguiria registrar tal imagem?

E vai-se então, minha alma se acalmando,
E se acalmando,
E se acalmando...

Até ficar completamente serena!

Como essa luz,
A teus pés.


N.a:  Poema inspirado em foto de Letícia Cardoso.

sábado, 23 de junho de 2012

O paradoxo do momento, ou A arte do milésimo de segundo!

"Já conheço os passos dessa estrada..."
Assim começa "Retrato em Branco e Preto" de Chico Buarque e Tom Jobim. Há uma curiosidade sobre essa música, assisti uma entrevista de Tom certa vez, em que ele confidenciava que a letra original da música seria "Vou colecionar mais um tamanco, outro retrato em preto e branco...", mas aí alguém, que não me recordo se foi o próprio Chico, sugeriu a mudança para versão que foi gravada, acredito que todos os meus leitores conheçam. Mas não é esse o mote desse texto, e sim essa maravilhosa arte: A fotografia.
Uma amiga muito querida vem me ajudando a admirar essa arte, e conhecer alguns de seus segredos. Tenho ido à exposições, prestado atenção, e até me arrisco com algumas clicadas. Uma das exposições em que fui, justamente levado pelas mãos dela, de um fotógrafo Francês chamado Robert Doisneau, me revelou uma coisa fantástica: A fotografia é o paradoxo do momento!
Doisneau era um fotógrafo do cotidiano, vê-se claramente que a maior parte de suas fotos não são montadas, é o dia-a-dia normal, momentos que vemos às centenas todos os dias, mas que com o "olhar certo" transformam-se em arte.
Aquelas fotos contavam histórias, diziam muito sobre pessoas e coisas, tudo isso num milésimo de segundo...tempo suficiente para a luz penetrar a objetiva e causar a reação nos sais do filme. Como pode? Um momento tão rápido nos contar tanta coisa, fazer refletir, causar tanta admiração?
Algumas daquelas fotos me paralisaram, outras me hipnotizaram, outras vieram comigo, transformaram-se em reflexão.
Que todos veem o mundo de forma diferente, isso entendo, mas como alguém pode transformar momentos em arte, assim dessa forma, me deixou intrigado. Será que todos podemos também? Será que eu posso?
As fotos não falam, todos sabem disso, mas aquelas fotos diziam coisas sobre o passado, o presente, e, algumas, até sobre o futuro daquelas pessoas. Um paradoxo criado pelo artista, pois, como já disse, aquilo foi um milésimo de segundo.Não canso de me surpreender com a condição humana. O que podemos criar com nossas mentes, nossa criatividade, é fantástico. Fiquei feliz pela descoberta dessa "arte de olhar as coisas", e agora, sinceramente, vejo o mundo com outros olhos, percebendo que cada minuto pode se transformar em arte, e, quando não gosto muito do que vejo, mudo de ângulo. É um belo exercício para coração e alma!
Pense muito! Páre sempre! Olhe ao redor!
Você verá que tudo pode ser visto de mais de uma forma, pode ser a forma crua, ou você pode, simplesmente, transformar qualquer coisa em arte.

Obrigado, Letícia!


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Amar, de fato!

Amar; de fato,
Não é só sentimento,
É também um ato.
Um consentimento,
Um pressentimento,
Um arroubamento,
Muito além do tato.
A chance única,
De ver a alma
De quem nos abraça.
De tirar a túnica,
Despir-se com calma,
Diante desse enol
Que nunca se disfarça.
Que não dissimula,
Pois ninguém consegue
Distorcer a luz,
Que acalma e aquece.
Não ver a parte,
E sim o todo,
Ver o eu,
Dentro do outro.
Escrever em si,
Com o ego aberto;
“Amar:
É CERTO!”

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

João e Marias!

"Agora eu era o herói" 1, mas eu não acredito num mundo que precise de heróis, mesmo não sendo um iconoclasta.
"Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo" 2.
Eu não!
Até tento não ser vil, mas às vezes a vilania toma o título em nossos atos mais sinceros e sem maldade. Como quando te apontam o dedo feito o cano fumegante de uma arma, mesmo sem saberem de ti; de qual nascente brotas.
Nunca mais apontei meu dedo em acusações iníquas. Apenas refletia tentando imaginar o que eu faria naquele lugar, mas logo percebi o quão sem sentido era isso também, simplesmente por que é impossível se colocar no lugar do outro. Exatamente por isso é que somos chamados assim: indivíduos. Sim, somos todos adjetivos.
Cada um é o que é, com sua essência, seu misto de físico e etéreo, seus momentos, sua humanidade.
Só um traço nos liga e andamos todos juntos de mãos dadas com ele: a inexorabilidade do tempo.
O que fiz eu então?
Aprendi a regar as plantas, a entender Marias e a colher reflexos de lua.
Marias são inefáveis, elas me dão suas essências em doses hahnemannianas pluricistas, para que talvez em seis bilhões de anos eu possa ter tido delas uma simples molécula, e é assim que as amo, exatamente dessa forma.
É cuspir ou beber: Eu sempre bebo.
Marias não precisam de desculpas, por que não precisam de culpas. São como Jasmins: Se você não quiser amá-los, não olhe pra eles. Marias são as vestes do homem nu, a água do sedento e o pão do faminto. Visto-as, sorvo-as e delas me alimento.
Marias necessecitam ser regadas como plantas, precisam de castelos (castelos de afeto) onde sejam tratadas como princesas. Marias precisam ser compreendidas, mesmo que isso seja possível apenas dentro do carinho de um olhar sem crítica, onde o que importa não é a objetividade, apenas o amor.
Marias são livres, Marias são encantadoras, Marias são a razão e a desrazão, Marias são o mistério da vida.
Amo-as todas, todos os dias, e enquanto estiverem ao alcance do meu braço eu as regarei, como uma grande comunhão, INFINITAMENTE.



1 João e Maria (Chico Buarque)
2 Poema em linha reta (Alvaro de Campos / Fernando Pessoa)

João e Maria