segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Da inutilidade das coisas sem sentido! Ou não...

Uma pétala numa agenda antiga, um papel de bombom, uma flor de papel pendurada num quadro, um bilhete totalmente ilegível num guardanapo de bar, aquele livro que você ganhou e nunca leu mas não teve coragem de dizer que não gostou.
A inutilidade de objetos que, por fazerem total falte de sentido, em si só já o fazem.
Por que sentir é exatamente isso, descobrir algo onde "aparentemente" não existe nada.
Chego a uma idade em que limpar gavetas é profundamente necessário, seguir em frente, mas sempre deixando pistas.
Sim, é fundamental deixar pistas!
As gavetas se somam e se acumulam, e delas vão saindo Marias, Paulas, Betes, Claudias, Marcias, alguns postais, fotos rasgadas onde apareço até um pedaço do braço, num corte em formato de silhueta que nem lembro mais de quem era. Saem coisas, outras retornam, umas me fazem rir, outras me angustiam, me entristecem. Velhas ideias cheias de emoção, otimismo, poesia, amor.
Mais gavetas, cada uma com suas estórias, cada uma com seu sentido, ou falta dele, ou simplesmente sem nada significante, e significando tudo. Se está ali é por que faz sentido.
Queria mergulhar todos os dias nessas gavetas, reler as estórias, pensar em novos finais, reescrever o hoje com as letras que encontrar, criar uma colcha de retalhos de relíquias, beber na fonte de mim mesmo, encontrar os caminhos que perdi.
Mas o tempo é inexorável, e por ele as letras se apagam, tornando as mensagens indecifráveis, somente papéis de bombom e flores de papel, totalmente inúteis e cheias de todas as coisas sobre as quais realmente vale a pena escrever.