Estava eu com meu pequeno tesouro este domingo. Uma pequena princesa de 4 aninhos, fase em que as novidades aparecem quase que diariamente.
À noite a mãe veio me mostrar o livro da escola.
-Olha o número quatro dela, que bonitinho.
-Olha a letra ge.
Era algo muito parecido com uma flecha, mas era de fato, o número quatro. Bateu-me então um aperto forte no peito, uma dor profunda, misturada, confusa e triste.
Por que eu não vi o número três? Onde estava eu quando pela primeira vez ela escreveu a letra efe?
Não sei...eu simplesmente não sei aonde estava. Mas sei onde deveria estar.
A vida me deu todas as cartas e as embaralhou de forma desconcertante. É como se eu montasse um quebra-cabeças temporal, com peças extemporâneas.
As peças são lindas, perfeitas, mas...
Não se encaixam.
E eu as olho e penso: “Essa aqui ficaria perfeita há cinco anos atrás”, “Essa ficaria perfeita se pudesse ser colocada daqui a três anos”, “Essa outra é tão maravilhosa, e eu simplesmente não sei onde se encaixa”.
São tantas coisas, e mais uma série de descobertas e o reencontro com a arte. E tudo se confunde e se mescla dentro da minha já confusa cabeça.
Sei que não posso ser todos, e que se pudesse não quereria sê-los. Tenho que ser apenas um e conviver com todos que vivem dentro de mim. Sei disso; sou grato à vida por isso.
Mas nenhum desses sentimentos é capaz de deter as lágrimas da tristeza que me caem quando penso que perdi o número três e a letra efe...
segunda-feira, 25 de maio de 2009
terça-feira, 19 de maio de 2009
Ensaio Sobre a Visão.
Sem dúvida um dos livros de leitura mais difícil (difícil, no sentido de denso, sofrido) que já li até hoje foi o “Ensaio Sobre a Cegueira” de José Saramago.
Tempos depois soube que a intenção dele era realmente essa, que o leitor tivesse essa angústia.
E realmente, há pouco tempo descobri que viver num mundo sem imagens (sem imagens, não sem luz), pode ser extremamente angustiante.
Mas nada pode ser mais triste do que ter a visão perfeita e não enxergar nada.
Como nós que temos a visão perfeita, que nos deliciamos com os sorrisos alheios, que vemos o sol e os girassóis, que acenamos de longe para um amigo e rimos com a cara engraçada dos cachorros na rua, podemos enxergar tão menos que um homem absolutamente cego? Como?
O que enxergamos quando se aproxima de nós um garoto no sinal, ou uma velha senhora com suas roupas rasgadas e suas unhas sujas, balançando seu pires de moedas; vazio como é vazia a fraternidade do mundo?
Enxergamos o medo. O medo de sermos enganados. Sim, por que o que uma velha senhora enfraquecida pela doença, mal alimentada e cansada pode oferecer de perigo pra mim. Nada.
E então, qual não foi minha profunda decepção comigo mesmo, ao ver uma pessoa totalmente desprovida de visão enxergar tanto mais sobre o mundo do que eu.
Aquele homem simples, de sorriso franco, calejado pelas agruras da vida, acostumado às batalhas e que agora é obrigado a encarar mais esse desafio: Faltou-lhe a visão.
Mas a visão ótica, a visão física. Não a capacidade de enxergar. Essa não lhe falta.
Falta a mim, e a muitos como eu.
Falta a mim, enxergar melhor o coração daqueles que me cercam, e dos que apenas estão próximos.
Falta-me ver o pedido de socorro onde vejo antipatia e intolerância. Falta-me ver as mãos estendidas pedindo que alguém as segure.
Falta enxergar a humanidade dos homens, como ele enxergou em mim.
Este homem emocionou-se ao meu lado, por um simples gesto, que para muitos, ou quase todos não significaria nada.
Como se enxergasse, pousou sua mão sobre a minha e apertou-a levemente. Naquele momento não foram minhas mãos que foram tocadas. Aquele homem cuja visão me surpreendeu e continua surpreendendo, tocou meu coração.
Há apenas alguns dias isso se passou. A minha visão do mundo, mudou muito desde então.
Ontem, ao flagrar-me fitando-a demoradamente, uma amiga minha perguntou-me:
- Mas afinal, por que é que você tanto me olha? O que é que tem de tão diferente em mim?
E eu respondi:
-Tudo.
Tempos depois soube que a intenção dele era realmente essa, que o leitor tivesse essa angústia.
E realmente, há pouco tempo descobri que viver num mundo sem imagens (sem imagens, não sem luz), pode ser extremamente angustiante.
Mas nada pode ser mais triste do que ter a visão perfeita e não enxergar nada.
Como nós que temos a visão perfeita, que nos deliciamos com os sorrisos alheios, que vemos o sol e os girassóis, que acenamos de longe para um amigo e rimos com a cara engraçada dos cachorros na rua, podemos enxergar tão menos que um homem absolutamente cego? Como?
O que enxergamos quando se aproxima de nós um garoto no sinal, ou uma velha senhora com suas roupas rasgadas e suas unhas sujas, balançando seu pires de moedas; vazio como é vazia a fraternidade do mundo?
Enxergamos o medo. O medo de sermos enganados. Sim, por que o que uma velha senhora enfraquecida pela doença, mal alimentada e cansada pode oferecer de perigo pra mim. Nada.
E então, qual não foi minha profunda decepção comigo mesmo, ao ver uma pessoa totalmente desprovida de visão enxergar tanto mais sobre o mundo do que eu.
Aquele homem simples, de sorriso franco, calejado pelas agruras da vida, acostumado às batalhas e que agora é obrigado a encarar mais esse desafio: Faltou-lhe a visão.
Mas a visão ótica, a visão física. Não a capacidade de enxergar. Essa não lhe falta.
Falta a mim, e a muitos como eu.
Falta a mim, enxergar melhor o coração daqueles que me cercam, e dos que apenas estão próximos.
Falta-me ver o pedido de socorro onde vejo antipatia e intolerância. Falta-me ver as mãos estendidas pedindo que alguém as segure.
Falta enxergar a humanidade dos homens, como ele enxergou em mim.
Este homem emocionou-se ao meu lado, por um simples gesto, que para muitos, ou quase todos não significaria nada.
Como se enxergasse, pousou sua mão sobre a minha e apertou-a levemente. Naquele momento não foram minhas mãos que foram tocadas. Aquele homem cuja visão me surpreendeu e continua surpreendendo, tocou meu coração.
Há apenas alguns dias isso se passou. A minha visão do mundo, mudou muito desde então.
Ontem, ao flagrar-me fitando-a demoradamente, uma amiga minha perguntou-me:
- Mas afinal, por que é que você tanto me olha? O que é que tem de tão diferente em mim?
E eu respondi:
-Tudo.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Conclusões Inconclusas 1: Sobre o Amor
Falar de amor é um lindo paradoxo. Simplesmente por que as sentenças não possuem uma forma de afigurar o amor.
O amor não pode ser dito ele pode apenas ser mostrado, ou nesse caso, SENTIDO.
O amor não pode ser dito ele pode apenas ser mostrado, ou nesse caso, SENTIDO.
Nem Macho, nem Fêmea: Humano.
Comentário meu publicado no Blog Mater Mundi no texto A Mulher Macho que por sua vez é uma resposta a um texto considerado patriarcal por nós: http://pistasdocaminho.blogspot.com/2009/05/guerra-dos-sexos-mitologia-da-doenca.html
Li o texto e achei bem interessante. Mas sim, o tema central não é as mulheres e sim os homes. Tudo nele gira em torno das relações dessas mulheres com os homens ou até com outras mulheres como sintoma de uma causa masculina.
Você não é ginofóbica. Entendo sua decepção com esse contexto.
Vejo você como uma Joana D'arc negra, contemporânea; com sua armadura psíquica gritando para todas as mulheres: "Quebrem seus terços", "Queimem suas burcas","Cuspam na cara de seus maridos bossais"...
Esses homens de peito de pombo, esculpidos em infinitas malhações narcisistas, sacudindo seus pênis maiores que seus cérebros. Que triste.
Mas foi assim que a sociedade impôs suas regras, criadas na medida da conveniência da dominação do homem sobre a mulher, como senhor e vassalo. Como isso me enoja...
Como aquele Deus barbado FILHO de um Deus PAI da falácia da Santíssima Trindade. O Homem não dá a luz, simples assim. Se tivermos que pensar num Deus supra-humano, como criador de todas as coisas, e, se tivermos que dar-lhe um gênero (que eu também acho um absurdo) sem dúvida seria um Deus (Deus mesmo, não Deusa) FILHA de um Deus MÃE.
Se eu soubesse pintar ou desenhar, faria várias pinturas da FILHA de Deus, crucificada, arrastada por correntes, e por fim, venerada, e levada para junto do Deus MÃE.
Me vejo cada dia mais diferente e distante disso tudo...às vezes me sinto isolado. Mas sei que as verdadeiras relações entre os seres da raça humana não deveriam ser assim.
Nós possuímos algo maravilhoso, a linguagem, e desperdiçamos essa característica por dezenas de milhares de anos. Está na hora de nos leventarmos !
A lealdade feminina pode contar comigo.
Li o texto e achei bem interessante. Mas sim, o tema central não é as mulheres e sim os homes. Tudo nele gira em torno das relações dessas mulheres com os homens ou até com outras mulheres como sintoma de uma causa masculina.
Você não é ginofóbica. Entendo sua decepção com esse contexto.
Vejo você como uma Joana D'arc negra, contemporânea; com sua armadura psíquica gritando para todas as mulheres: "Quebrem seus terços", "Queimem suas burcas","Cuspam na cara de seus maridos bossais"...
Esses homens de peito de pombo, esculpidos em infinitas malhações narcisistas, sacudindo seus pênis maiores que seus cérebros. Que triste.
Mas foi assim que a sociedade impôs suas regras, criadas na medida da conveniência da dominação do homem sobre a mulher, como senhor e vassalo. Como isso me enoja...
Como aquele Deus barbado FILHO de um Deus PAI da falácia da Santíssima Trindade. O Homem não dá a luz, simples assim. Se tivermos que pensar num Deus supra-humano, como criador de todas as coisas, e, se tivermos que dar-lhe um gênero (que eu também acho um absurdo) sem dúvida seria um Deus (Deus mesmo, não Deusa) FILHA de um Deus MÃE.
Se eu soubesse pintar ou desenhar, faria várias pinturas da FILHA de Deus, crucificada, arrastada por correntes, e por fim, venerada, e levada para junto do Deus MÃE.
Me vejo cada dia mais diferente e distante disso tudo...às vezes me sinto isolado. Mas sei que as verdadeiras relações entre os seres da raça humana não deveriam ser assim.
Nós possuímos algo maravilhoso, a linguagem, e desperdiçamos essa característica por dezenas de milhares de anos. Está na hora de nos leventarmos !
A lealdade feminina pode contar comigo.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Complexo de Sísifo.
Não leitor, você não é Sísifo. Nem eu.
Apesar de a sociedade moderna às vezes fazer com que nos sintamos inúteis, nós não somos.
Sempre procurei fazer tudo com paixão, com tesão, até as tarefas mais rotineiras e muitas vezes enfadonhas são tratadas por mim como coisas de suma importância, caso contrário é melhor não fazê-las.
Em “Tempos Modernos” de Chaplin (filme que eu considero atemporal), há uma cena maravilhosa em que o vagabundo fica preso nas engrenagens da máquina. É um arquétipo maravilhoso, mas dolorido e que desperta toda uma gama de questionamentos.
Podemos e devemos aprender a ter paixão pelo que fazemos seja lá o que for. Sei que isso não é fácil, pois eu mesmo já me senti como o vagabundo em várias fases da minha vida, e me lembro bem, todas elas foram improdutivas até eu aprender a ter algum tipo de paixão. A mesma paixão que sinto em andar descalço, tocar violão ou mergulhar no mar.
Quando aprendemos isso, aprendemos também a nos valorizar profissional e pessoalmente, crescemos como pessoas, ganhamos respeito próprio.
E então levamos esse respeito para nossa vida sentimental também.
Tenho visto, infelizmente, pessoas vivendo suas relações amorosas como Pozzo e Lucky de “Esperando Godot”, e isso tem me entristecido demais.
Independente de opção sexual, orientação, fetiche ou qualquer forma menos convencional de relacionamento, o ser humano não deve se degradar. As relações sexuais, desde que sejam satisfatórias, podem e devem se utilizar de todos os tipos de fantasia, mas não devemos nos esquecer de que são meramente fantasias sexuais.
Por favor, nós não somos sísifo. O homem tem uma propensão selvagem às relações de dominação e poder, seja ele financeiro, hierárquico ou o pior de todos psicológico.
Cada passo dado só é bom se for pra frente, e chega a ser significativo o fato de respiramos pra dentro. Ao aprender com pequenas coisas, podemos pegar nossas experiências e transporta-las para as grandes coisas como o aumento de nossa autoestima.
Quem você é tem muito a ver com a forma como você se enxerga.
Enxerguemos o mundo, mas façamos questão que o mundo também nos veja, assim podemos crescer como indivíduos e como sociedade.
Se você se reconheceu aqui, não foi à toa, imprima e guarde no bolso e procure ser feliz.
Apesar de a sociedade moderna às vezes fazer com que nos sintamos inúteis, nós não somos.
Sempre procurei fazer tudo com paixão, com tesão, até as tarefas mais rotineiras e muitas vezes enfadonhas são tratadas por mim como coisas de suma importância, caso contrário é melhor não fazê-las.
Em “Tempos Modernos” de Chaplin (filme que eu considero atemporal), há uma cena maravilhosa em que o vagabundo fica preso nas engrenagens da máquina. É um arquétipo maravilhoso, mas dolorido e que desperta toda uma gama de questionamentos.
Podemos e devemos aprender a ter paixão pelo que fazemos seja lá o que for. Sei que isso não é fácil, pois eu mesmo já me senti como o vagabundo em várias fases da minha vida, e me lembro bem, todas elas foram improdutivas até eu aprender a ter algum tipo de paixão. A mesma paixão que sinto em andar descalço, tocar violão ou mergulhar no mar.
Quando aprendemos isso, aprendemos também a nos valorizar profissional e pessoalmente, crescemos como pessoas, ganhamos respeito próprio.
E então levamos esse respeito para nossa vida sentimental também.
Tenho visto, infelizmente, pessoas vivendo suas relações amorosas como Pozzo e Lucky de “Esperando Godot”, e isso tem me entristecido demais.
Independente de opção sexual, orientação, fetiche ou qualquer forma menos convencional de relacionamento, o ser humano não deve se degradar. As relações sexuais, desde que sejam satisfatórias, podem e devem se utilizar de todos os tipos de fantasia, mas não devemos nos esquecer de que são meramente fantasias sexuais.
Por favor, nós não somos sísifo. O homem tem uma propensão selvagem às relações de dominação e poder, seja ele financeiro, hierárquico ou o pior de todos psicológico.
Cada passo dado só é bom se for pra frente, e chega a ser significativo o fato de respiramos pra dentro. Ao aprender com pequenas coisas, podemos pegar nossas experiências e transporta-las para as grandes coisas como o aumento de nossa autoestima.
Quem você é tem muito a ver com a forma como você se enxerga.
Enxerguemos o mundo, mas façamos questão que o mundo também nos veja, assim podemos crescer como indivíduos e como sociedade.
Se você se reconheceu aqui, não foi à toa, imprima e guarde no bolso e procure ser feliz.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Amor de um Feliz Rouxinol
Era uma vez um Feliz Rouxinol que vivia num carvalho à beira de um riacho tranqüilo. Na relva ao seu redor havia uma formosa rosa e um lindo jasmim.
Todos os dias o Feliz Rouxinol cantava seu amor pelo carvalho, pela rosa e pelo jasmim. Levantava seu pequeno pescocinho, olhava para o céu e entoava as mais belas canções para seus três amores.
Um dia um lagarto que passava pelo jardim ao ouvir o canto, perguntou ao rouxinol: - Porque canta com tanto afinco assim Feliz Rouxinol, se eles parecem nem ligar?
E o Feliz Rouxinol interrompeu um pouco seu canto para explicar ao amigo lagarto por que fazia aquilo de forma tão entregue.
- Amigo lagarto, eles parecem não ligar, pois estão acostumados ao meu canto, e o que parece ser indiferença no fundo eu sei muito bem que é forma deles também manifestarem seu amor por mim. Quando o inverno gelado calou meu canto, este galho do carvalho onde me ponho a cantar começou a descascar e perder sua força até quase se quebrar, a rosa não tinha mais o seu brilho e algumas pétalas começaram a cair e o jasmim perdeu quase todo seu encantador perfume.
-Foi aí que percebi o quanto meu canto era valioso para eles, mesmo que não aplaudissem ou retribuíssem da qualquer outra forma. Desse dia em diante não me importava mais o frio ou a dor do esforço de cantar, só não podia mais vê-los definhando daquele jeito a cada dia.
-Pus-me então a cantar da forma mais bela que conseguia na esperança de que de alguma forma eles recuperassem sua beleza.
-Então, como mágica, a rosa voltou a se abrir e brilhou iluminando nosso jardim, o jasmim exalou o perfume mais doce que se sentiu em nosso reino e o carvalho voltou a ser o forte e belo carvalho de outros tempos.
-Eu então entendi que não precisava deles mais do que isso: Que fossem belos.
O lagarto parou por um tempo, balançou sua cauda em sinal de entendimento, e perguntou de novo ao Feliz Rouxinol:- Mas o carvalho, a rosa e o jasmim são três. Como pode você amar os três ao mesmo tempo?
O Feliz Rouxinol entoou um pequeno canto, olhou para o seu amigo e respondeu:
- Por que eles estão aqui, perto de mim, não vão embora, e enquanto eles ficarem; assim o será.
Todos os dias o Feliz Rouxinol cantava seu amor pelo carvalho, pela rosa e pelo jasmim. Levantava seu pequeno pescocinho, olhava para o céu e entoava as mais belas canções para seus três amores.
Um dia um lagarto que passava pelo jardim ao ouvir o canto, perguntou ao rouxinol: - Porque canta com tanto afinco assim Feliz Rouxinol, se eles parecem nem ligar?
E o Feliz Rouxinol interrompeu um pouco seu canto para explicar ao amigo lagarto por que fazia aquilo de forma tão entregue.
- Amigo lagarto, eles parecem não ligar, pois estão acostumados ao meu canto, e o que parece ser indiferença no fundo eu sei muito bem que é forma deles também manifestarem seu amor por mim. Quando o inverno gelado calou meu canto, este galho do carvalho onde me ponho a cantar começou a descascar e perder sua força até quase se quebrar, a rosa não tinha mais o seu brilho e algumas pétalas começaram a cair e o jasmim perdeu quase todo seu encantador perfume.
-Foi aí que percebi o quanto meu canto era valioso para eles, mesmo que não aplaudissem ou retribuíssem da qualquer outra forma. Desse dia em diante não me importava mais o frio ou a dor do esforço de cantar, só não podia mais vê-los definhando daquele jeito a cada dia.
-Pus-me então a cantar da forma mais bela que conseguia na esperança de que de alguma forma eles recuperassem sua beleza.
-Então, como mágica, a rosa voltou a se abrir e brilhou iluminando nosso jardim, o jasmim exalou o perfume mais doce que se sentiu em nosso reino e o carvalho voltou a ser o forte e belo carvalho de outros tempos.
-Eu então entendi que não precisava deles mais do que isso: Que fossem belos.
O lagarto parou por um tempo, balançou sua cauda em sinal de entendimento, e perguntou de novo ao Feliz Rouxinol:- Mas o carvalho, a rosa e o jasmim são três. Como pode você amar os três ao mesmo tempo?
O Feliz Rouxinol entoou um pequeno canto, olhou para o seu amigo e respondeu:
- Por que eles estão aqui, perto de mim, não vão embora, e enquanto eles ficarem; assim o será.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
O Urso e o Pote de Mel ou A Alquimia dos Sentimentos.
Procurando manter estável meu nível de endorfinas (e quem me conhece sabe que ele é muito alto), dia desses fui acometido por um estranho desejo: Mel.
Um doce néctar cuja matéria prima não poderia ser mais inebriante: Flores.
Num rompante, saio eu cruzando caminhos e estradas em busca do objeto de meu desejo. Minha boca salivava esperando encontrar sua doçura e apressei minha jornada para encontrá-lo.
Encontrei-o. Um pote de Mel. O objeto de meu desejo.
O encontro surtiu um efeito avassalador, mas não foi o encontro do urso com o pote de Mel, muito pelo contrário.
Naquele momento ocorreu uma alquimia de sentimentos e transformei chumbo em ouro.
O desejo tornou-se afeto, e passei a olhar a textura daquele Mel, seu cheiro, e pensei no lirismo de sua produção e na beleza de sua existência.
A partir dali me senti como um menino, enfeitiçado diante de um aquário de peixinhos dourados. Por um instante achei que tocavam o Bolero de Ravel ao nosso redor, mas era apenas a caixa de som de um bar das proximidades.
E o afeto virou ternura e a ternura virou tradução, e estou me traduzindo todos os dias desde então.
E o urso, se transformando em rouxinol, prova que a magia ainda existe.
A magia do carinho.
Milton Nascimento - Rouxinol
Um doce néctar cuja matéria prima não poderia ser mais inebriante: Flores.
Num rompante, saio eu cruzando caminhos e estradas em busca do objeto de meu desejo. Minha boca salivava esperando encontrar sua doçura e apressei minha jornada para encontrá-lo.
Encontrei-o. Um pote de Mel. O objeto de meu desejo.
O encontro surtiu um efeito avassalador, mas não foi o encontro do urso com o pote de Mel, muito pelo contrário.
Naquele momento ocorreu uma alquimia de sentimentos e transformei chumbo em ouro.
O desejo tornou-se afeto, e passei a olhar a textura daquele Mel, seu cheiro, e pensei no lirismo de sua produção e na beleza de sua existência.
A partir dali me senti como um menino, enfeitiçado diante de um aquário de peixinhos dourados. Por um instante achei que tocavam o Bolero de Ravel ao nosso redor, mas era apenas a caixa de som de um bar das proximidades.
E o afeto virou ternura e a ternura virou tradução, e estou me traduzindo todos os dias desde então.
E o urso, se transformando em rouxinol, prova que a magia ainda existe.
A magia do carinho.
Milton Nascimento - Rouxinol
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