domingo, 21 de dezembro de 2008

Primavera de Praga.

Não é de hoje que convivemos com trevas em nosso belo Rio. Não é de hoje que convivemos com trevas em nosso belo planeta. Não é de hoje que convivo com o lado obscuro1 de mim mesmo...
“Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja ‘desviar o olhar’! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia apenas alguém que diz sim”.2
Hoje disse a uma grande amiga minha que me sentia muito como Thomas de “A insustentável leveza do ser”, colecionando Teresas (mulheres que amo, mas a quem não me entrego), e que o que me incomoda, ou deixa de me incomodar, como queiram; é a total falta de peso.
Há vinte anos atrás quando ouvia a trilha sonora da minha vida, eu tinha certeza de que ela não mudaria, mas eis que me encontro eu, aqui hoje; buscando semelhanças entre esses dois discos, o de hoje, e o de 20 anos atrás.
Não é só uma simples mudança de perspectiva; não... É como uma simples palavra pode mudar totalmente de sentido.
Ah, sim! E a total ausência de peso. Sim, a ausência de peso, mas que nesse caso, não é leveza.
Aprendi que culpa não é um sentimento a ser negociado a dois. Não. Você vende e compra de si mesmo. Talvez por isso eu a tenha deixado de lado há muito tempo. Sou totalmente avesso a maniqueísmos.
Não posso, e não devo, dizer ao mundo que direção seguir, e isso é uma coisa que só vem com a experiência de vida, mas posso, e devo sempre, me manter na direção certa, ou melhor, na que eu creio ser a certa.
E então me pauto por esse caminho, cheio de bifurcações e encruzilhadas, dentro do meu confuso ser. Mas me lembro sempre disso:
Somos o que escolhemos ser, mas sempre podemos mudar o que somos.

1- fig.,
confuso; difícil de entender; enigmático; secreto; oculto; pouco conhecido; sem notoriedade; ignorado;

2- Friedrich Nietzsche. Gaia Ciência.

Nota do autor: Essa foi, sem dúvida, uma das vezes em que o Alter-Ego do Feliz falou através dele.

4 comentários:

Unknown disse...

Texto PROFUNDO.
Desses que faz a gente ler por ler e aos poucos ir entrando na leitura, minimizando uma janela, abaixando o som e franzindo o cenho.

Concordo que a culpa é algo que não se discute com o outro, ou você sente ou não. Mas... Se a culpa é minha eu a coloco em quem eu quiser. Então fico livre!

Discordo da parte de não dizer ao mundo por onde seguir. A TV me diz o que fazer, o comércio me diz o que comprar, os próprios livros me ensinam como pensar. Me sinto no direito de dizer pra qualquer criatura por qual caminho deve ir. Vai quem quiser!

Também discordo da parte em que diz que somos o que escolhemos ser. Eu tento me mudar desde que vi que era uma pessoa difícil de lidar e eu não escolhi ser assim. Melhoro em certos aspectos mas o que há no cerne do meu ser não é algo mutável, então nem sempre podemos mudar o que somos.

Anônimo disse...

Li um texto do Pres. do Colégio Intern.dos Terapeutas, Roberto Crema, que tem tudo a ver com esse texto aí: "Ninguém muda ninguém; ninguém muda sozinho; nós mudamos nos encontros. Simples, mas profundo, preciso. É nos relacionementos que nos transformamos.
Somos transformados a partir dos encontros, desde que estejamos abertos e livres para sermos impactados pela ideia e sentimento do outro.
Passar pela vida sem se permitir um relacionamento próximo com o outro, é não crescer, não evoluir, não se transformar."

E como diz o Poetinha: "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."

Unknown disse...

O homem é uma corda estendida entre o animal e o super homem – Uma corda sobre o abismo.
É perigoso vencer o abismo – é perigoso ir por este caminho – é perigoso olhar para trás – é perigoso ter uma tontura e parar de repente!
A grandeza do homem está em ele ser uma ponte e não uma meta; o que se pode amar no homem é ele ser transição e perdição.
Amo os que só sabem viver com a condição de perecer, porque perecendo se superam.
Amo aqueles a quem enche um grande desprezo, pois trazem consigo o respeito supremo, são as flechas do desejo apontadas para a outra margem...
NIETZSCHE, F. Assim falava Zaratustra

Anônimo disse...

A insustentável leveza do ser é a dura dúvida entre cair no abismo e se manter em chão firme.
Porém, muitas vezes levamos nossa vida entre a corda bamba, sem tomar posições e perdemos, com isso, os riscos mas também os sabores das escolhas...
Se machucar, assim como navegar, é preciso...