segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Dialetica do Carnaval

"Carnaval é o ópio do povo".
Sim? Não? Talvez!
Manhã de domingo, um lindo sol na nossa bela cidade, rumamos eu e minha companheira, que por sinal é uma foliã animadíssima e grande entusiata da festa de Momo, para a concentração de um bloco tradicional de nossa cidade, patrocinado por um político também velho conhecido nosso.
Passávamos por uma igreja bem próxima da concentração do bloco. Na porta um homem de meia idade, cabeça baixa respeitosamente, contrito ouvindo o fim da missa.
Usava uma camiseta do bloco.
Lá estavamos nós contagiados pela folia (eu pessoalmente adoro samba, e adoro sambar até não sentir mais as pernas) quando o patrono do bloco chegou e rapidamente transformou o palco numa espécie de palanque político.
Pediram então a presença da rainha de bateria que subiu ao palanque aos gritos (meus gritos) de "gostosa, gostosa, gostosa", numa espécie de ato de magia para distrair a atenção do público enquanto o truque é realizado.
E lá ia o patrono do bloco fazendo sua política para uma multidão distraída pelos encantos da festa: "Gostaria de registrar a presença de nosso vice-prefeito", "Gostaria de agradecer a autoridade tal pela presença", etc...
Em meio a muito marketing pessoal e articulação de aliados que mostravam suas caras no palanque, veio a notícia: "Acabamos de atingir a marca de 20 toneladas de alimentos doados".
Nesse momento também na minha frente estava aquele senhor de meia-idade, o mesmo da porta da igreja, falando gracinhas para uma bela morena que com certeza não era sua esposa, muito menos sobrinha ou coisa parecida.
Sou o mais ardente defensor de que todas as políticas públicas devam ser voltadas para que o assistencialismo não seja mais necessário em nossa sociedade, para que ele o mais breve possível seja apenas uma palavra no dicionário e não uma arma nas maõs de políticos populistas que se aproveitam das necessidades alheias.
Temos aí os Garotinhos e Hugos Chaves da vida, e, infelizmente, nosso próprio presidente que utiliza desses expedientes; e talvez nem precisasse.
Porém, há algum tempo voltei a conviver mais próximamente na comunidade onde cersci. Uma comunidade carente de muitas coisas, onde a baixa qualificação da maioria, e problemas culturais, reduzem a auto estima provocando um nível de desempregados e sub empregados um pouco maior do que a média.
Convivo com pessoas que saem de casa sem terem absolutamente nada na despensa e vão atrás de um muro pra pintarem, de uma faxina, de alguma espécie de lixo de metal pra vender no ferro-velho ou de qualquer outra coisa que lhes garanta os dez, quinze reais daquele dia, para o arroz, o feijão, o fubá e, em dias de sorte, a carne de segunda ou o frango.
Sim, são gurreiros!
Heróis e heroínas anônimos, conhecidos pela maioria de nós como dados estatísticos, e que eu conheço como Zé pintor, dona Arlete, Bojudo, Biluca, dona Ângela, Beth costureira, seu João cachaça além de muitos outros que hoje pra mim são rostos e nomes, que retratam essa realidade.

Mas em alguns dias...

Não há o muro nem a faxina. O lixo já foi recolhido. Não há uma cisterna pra limpar, uma calça pra costurar e nem mesmo um quintal pra varrer.
Esses heróis não batem na minha porta, e nem na de ninguém, pra pedir dinheiro.
Fico imaginando, como imaginou Djavan: "O que é não ter e ter que ter pra dar?"


Vinte toneladas de alimentos!
Será que são mais importantes do que uma boa escola? Do que cultura e cidadania para as populações carentes? Do que inclusão social, igualdade racial e auto-estima?
Minha resposta imediata é: Absolutamente não.

Mas nesses dias...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Conclusões Inconclusas 3: "As Dúvidas"

O que é uma dúvida, a não ser uma certeza que demora a chegar?
O mundo não é exatamente o que gostaríamos que ele fosse, mas o local onde vivemos. O que ele nos dá, o que nos reserva, não está escrito em lugar nenhum, a não ser nas linhas que traçamos com nossos passos.
Penso quase sempre assim; chamam-me "sofista" ou protagórico, mas na verdade não sou. E justamente por isso. Minha vontade de moldar o mundo à minha visão me traz essa luta interna diária.
Hoje ao trocar um curativo no meu joelho, passei vários miniutos vendo o sangue escorrer e por um momento consegui enxergar minha circulação inteira. Vi como o sangue circula sem determinismos. Ele apenas vai, e vem e volta.
Eu não digo para ele circular, mas entendo como é belo que ele circule dentro de mim.
Curiosamente, nesse momento, um vento abriu a porta do meu quarto e eu vi os primeiros raios de sol do dia.
Respirei fortemente, mesmo sabendo que o ar estava ali, que não ia acabar. Naquele momento eu quis ser um pouco o ar e o sol.
Lá se foi o sofista...
Me lembrei de Fernando Pessoa e percebi que eu sou o ar e o sol. Mas mais do que isso, eu sou eu mesmo.
Minhas dúvidas fazem parte de mim, de quem eu sou hoje, de como vejo as coisas que me cercam, de como me relaciono com o mundo.
Às vezes as dúvidas são nada mais nada menos do que o mundo te dizendo: "Tenha um pouquinho de paciência".
Ao pensar assim, desconstruo doutrinas, desalojo os mestres, rasgo tratados que eu mesmo ajudei a escrever, desviro a ampulheta e me preparo então para o "recomeço" diário.
Sai de casa aliviado e nessa manhã percebi cores diferentes no meu quintal.
Tomara que eu as veja amanhã de novo...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Rock'n Roll

Uma pessoa a quem amo muito vaticinou: “Não somos pedra”.

Sim, realmente não somos. Pelo menos aqueles que querem evoluir e aproveitar as boas lições que o dia-a-dia da vida nos traz.

Somos uma massa mutante e precisamos aproveitar ao máximo o pequeno intervalo de tempo que o universo nos reserva, o ultramicroscópico intervalo de tempo entre o dia em que nascemos e o dia em que iremos deixar nossa existência como seres humanos.

E quem são os afortunados que melhor aproveitam esse intervalo? Seriam aqueles que nasceram ricos e poderosos? Os que puderam passar suas vidas sem sacrifícios e saborearam os prazeres que a beleza do planeta e o conforto da civilização lhes proveram?

Não estou bem certo. Não creio em religiões, portanto acredito que só há uma forma de sobreviver após a morte, quando nossa obra é lembrada, quando nossas idéias são lembradas, quando nossa vida é lembrada.

De certo nisso eu acredito. Você deixa de existir como um ser humano e passa a existir como uma idéia, um exemplo, alguém que amou e foi amado, alguém que não teve medo de se arriscar.

Então por que não arriscar-se? Por que não amar? Por que não mudar?

Mudar faz parte da evolução, mudar é saudavelmente positivo, invariavelmente moderno, refrescantemente adequado.

Mudar, rolar, não ficar parado, movimentar-se.

Ah, querida... se todos fossem iguais a você...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Conclusões Inconclusas 2: A Felicidade!

1-) A felicidade são momentes que te afetam muito, de forma positiva, causando um enorme bem-estar e uma sensação de paz interior.
A lembrança desses momentos então continua gerando bons sentimentos e sensações prazeirosas por tempos não determinados até que por uma conjunção de fatores esses momentos felizes possam voltar a ocorrer formando o que eu chamo de "ciclo da felicidade".

2-) Felicidade é lembrar de uma determinada pessoa que me faz muito bem, ao lado de quem, tenho certeza: I will be happy.

Espelhos Côncavos

Existe uma espécie de espelho que possui uma característica especial: ele reflete nossa imagem invertida.

Ao longo da vida, mas principalmente quando somos adolescentes e jovens e ainda sofremos de vários tipos de inseguranças relativas à nossa vida sentimental e profissional, esses espelhos podem causar grandes danos.

Quase todos, temos ou tivemos um amigo invejoso, uma tia avó fofoqueira, daquelas que não perde uma oportunidade de falar mal de alguém, um professor cheio de preconceitos, que mesmo tendo por ofício educar e entender, não consegue achar um canal de comunicação com seus alunos, e então, algumas vezes a nossa imagem fica bastante distorcida através deles.

Jovens são subversivos por natureza. Gostam de experimentar, fazem coisas irresponsáveis, mas dentro de um padrão, esses atos são esperados, pois é uma característica da juventude.

A maioria dos leitores desse blog, já meio que passaram por essa fase, mas ainda assim há em nossa sociedade espelhos côncavos que refletem uma imagem invertida de adultos que querem simplesmente viver suas vidas com suas opções respeitadas, sem fazer mal a ninguém e respeitando as opções alheias.

Por que isso é tão difícil?

Tenho me perguntado isso incessantemente, mas não acho uma resposta racional, apenas aquele velho sofisma: “É a natureza humana”.

Está mais do que claro que essa resposta não serve pra mim. Não me deixará menos angustiado, apenas menos curioso.

Há um motivo forte pelo qual o homem chegou tão longe: Ele é curioso.

Investigo o porquê de determinadas pessoas se sentirem tão bem, apenas pelo fato de poderem criticar outras, ou se sentirem superiores através de uma falsa noção de normalidade, que torna piercings e cabelos roxos e cor-de-rosa em um fator de exclusão, ou algo de gueto, que absolutamente não são.

As diferenças existem, estão aí em todos os locais, no RAP e no Funk, no Jazz e na Bossa, nos cabelos roxos e nos carecas.

Diferenças!

Algo que mede nossa capacidade de respeito pelo próximo.

Posso não me enxergar no outro, mas sempre tentarei não distorcer sua imagem.

Sim, pois quem afinal, é capaz de garantir (garanto que eu não sou) que a imagem distorcida não é a minha.

Não é um simplismo essa visão. É uma consideração de elementos presentes em vários momentos, em diferentes situações e diferentes ambientes pelos quais transito no meu dia-a-dia.

Observando, entendendo, conversando, perguntando, e assim buscando a serenidade para poder dizer: “Não é bom nem ruim, é apenas diferente”.





P.S: Amo tu cara de tatu !!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Visões d’além mar.

Somos letras e frases nas telas,
Espaço virtual em que me torno quântico,
Sonhando imagens no içar das velas
Onde encontramos nosso doce cântico.

Não sou um ele que luta por elas,
Nem abjeto, nem tolo e romântico.
Sou vida; e vida vem delas.
Mostrando em atos seu valor semântico.

Não admiro só suas aquarelas,
Tua coragem vai-me ao recôndito,
Tuas idéias tão fortes e belas
Tornam minúsculo o oceano Atlântico.

Para Nana Odara.

P.S: Nana, quando te leio, estou quase sempre sentado a seu lado.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Três Estados.

Não sou como o mar nem como o rio,
Sou mais como a chuva.
Sou a água que viaja sob várias formas.
Evaporo, condenso e precipito.

Espero pelo vento,
Nele viajo livre.
Molho os amantes e irrigo a terra.
E nela me transformo em relva.
E nela me transformo em flor.

Me construo e desconstruo,
E reconstruo onde necessário.

E junto meu ser em pingos, em gotas,
Pequenas frações de mim
Nessa grande nuvem chamada eu.