sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Parceiros Inesquecíveis

Em todos os meus anos de farra (foram muitos), encontrei quatro grandes parceiros. Sabe aqueles caras pra quem tudo tá bom ,e, se não estiver, a gente faz ficar? Até aí tudo bem, novidade nenhuma. Só que um desses parceiros era uma mulher.
Vocês a conhecerão como Valéria, pois ela hoje é a recatada esposa de um proeminente político de nossa cidade. Valéria era uma bela mulher (está mais bela ainda hoje), pele morena clara, cabelos pretos lisos, sempre sedosos e com um brilho vivo, feições finas e olhos verdes que sempre me confundiram. Hora eram bem clarinhos, hora eram mais escuros, cor de mel com contornos amarelados.
Trabalhávamos juntos em uma livraria. Na época eu estudava Direito e ela Literatura.
Saíamos os quatro por aqueles barzinhos ali perto da UFF, um pouco antes do Canto do Rio, tomávamos todas e depois íamos pra São Francisco ou qualquer outro lugar em que pudéssemos farrear até o sol nascer.
Valéria sempre foi o centro das atenções e sempre gostou de homens bonitos, mas ficava facilmente entediada com papos monossilábicos e outros tantos tipos de asneiras que a rapaziada da nossa idade (tínhamos entre 26 e 31 anos na época) costumava proferir.
Eu e Valéria nunca chegamos a “namorar” realmente, embora tivéssemos ficado juntos em várias oportunidades. Tínhamos a mente muito aberta e poucas pessoas além de nós quatro conseguiam nos compreender.
Falávamos abertamente sobre todos os assuntos inclusive sobre sexo. Riamos e criticávamos a sociedade hipócrita, discutíamos a obra de Proust e de Simone Beauvoir e a influência de um sobre o outro da mesma forma que eu contava pra ela como gostava que as mulheres lambessem meu saco e ela me contava que tinha muita curiosidade de fazer sexo anal.
Numa determinada época (vocês vão ouvir falar muito dessa época) um “amigo do Feliz” abriu uma casa noturna com música ao vivo e logo logo ela se tornou point de quase todas as tribos de Niterói.
Varávamos noites naquele local, quase como se nem fôssemos mais pra casa. Muita paquera, muito papo bom, muita risada. E o grupo sempre junto, sempre unido.
Lembro-me particularmente de uma noite, ou mais especificamente, do dia seguinte a essa noite.
Era um sábado. Nós já tínhamos nos encontrado de tarde na saída do trabalho e cada um foi pra sua casa descansar e se arrumar pra noitada. Chegamos por volta das onze, não havia mais mesas vazias, como se isso fosse algum empecilho pra nós. Ficamos em pé. Gil, o garçom, nos servia e colocava as comandas como mesa 00.
Ficamos na mesma intensidade de sempre: Cerveja, cerveja, cerveja. Papo, papo, papo. Rock’n Roll, Rock’n Roll, Rock’n Roll. A noite passou muito rápida.
Cinco e meia da manhã, as cadeiras já estavam viradas sobre as mesas.
Perguntei a ela:
− E aí, parceirinha? Se arrumou?
− Que nada, hoje num tô pegando nem resfriado...
Ela devolveu a pergunta:
− Mas e você e a loirinha? Tavam num papo, hein...
− Num deu. Ela me perguntou se dialética tinha a ver com aquela coisa de comer só frutas ou cortar os carboidratos!
Gargalhamos juntos de uma forma como só os amigos sabem fazer.
− Tin-tin.
Disse ela, levantando o copo.
− Tin-tin.
Respondi eu.
Tínhamos essa cumplicidade que era o que eu mais amava naqueles dias. Poder compartilhar das experiências e emoções do dia-a-dia com amigos de verdade, que me amavam e compreendiam.
Coloquei a mão no bolso, dei aquela inclinada “45° pra baixo” com a cabeça, depois levantei o rosto e olhei direto nos olhos dela. Ela sorriu...


Já passava de meio-dia, eu bebia uma água com gás ao lado da cama, Valéria, ainda deitada, se espreguiçava languidamente entrecoberta por um fino lençol que tapava apenas parte dos seus seios e o sexo, e me olhava de um jeito um pouco diferente, me deixando pouco à vontade.
De repente do nada, bum:
Me chamou pelo apelido que todos me chamam, mas de uma forma especial, meiga, compassada, meio que sussurrada.
− Você se vê casado comigo?
O espanto foi tão grande que a água que estava em minha boca saiu quase toda pelas minhas narinas. Levei a mão ao rosto para me limpar e balbuciei algo do tipo:
− Bom... sabe né...a gente é muito jovem... você tem sua faculdade... é tanta coisa né? A gente tá tão bem assim...
Valéria virou lentamente o rosto para o outro lado e passou bom tempo fitando a parede quase como se estivesse olhando através dela.
Ficamos amigos ainda por algum tempo, mas Valéria começou a procurar outros grupos para sair.
Ela se casou com um representante de tudo aquilo que condenávamos.

P.S: Me ocorreu um pensamento agora.
Eu não entendo porra nenhuma de mulheres!

 Metro - Balanco das Horas

5 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Não sei porquê não entende... Ela cansou de transar e queria casar, mesmo jovem. Como você não quis, ela casou com aquele homem com quem ela não esperava casar por condenar suas atutudes, como você mesmo disse. Mas CASOU, né? Quando você estiver velho e cansado, as meninas jovens também não vão querer casar com você por serem jovens e quererem aproveitar a vida. Aí sim você vai se sentir como a Valéria...

Pense nisso....

Professor disse...

Respeito sua opinião e agradeço pela crítica.

Anônimo disse...

Você e mais 3 bilhões e poucos homens não entendem porra nenhuma de mulheres.
Pensando bem, nem elas mesmas às vezes se entendem.
O problema de vocês homens é querer saber "o que quer uma mulher".
Essa é a pergunta que nunca conseguirá ser respondida. E sabe por quê?
Não queremos ser compreendidas; queremos ser amadas.
Ainda tem mais, mas fica pra depois...

Lou Salomé disse...

Continuando...
Pensando bem, não sei se você não compreende as mulheres.
Talvez tenha uma dificuldade de lidar com o lado feminino, com o teu lado feminino, e isso se reflete em tua relação com as mulheres.
Talvez você tenha dificuldade de mostrar a fragilidade das emoções; talvez você tenha medo de mergulhar fundo nas emoções.
Ainda tem mais...